segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Saneamento Básico



Por: Fabiana Ratti 

Saneamento Básico, de Jorge Furtado, é um interessante retrato brasileiro. Um pequena vila na Serra Gaúcha sofre os efeitos de falta de saneamento básico. É necessária a construção de uma fossa, pois a população sente os odores e a iminência constante de doenças no córrego que passa próximo às casas.

A vila elege uma comissão para ir à sub-prefeitura, a qual será encabeçada pela Marina, personagem de Fernanda Torres. Quando esta chega à secretaria, começa o Brasil entrar em cena: a secretária reconhece a necessidade da fossa mas diz que não existe verba para esta área, apenas para a montagem de um filme de ficção. 

Como todo bom brasileiro, Marina tem uma idéia! Convoca família e amigos para participarem do filme de ficção e assim, ganhar a verba para investir na fossa. O mocinho, a mocinha, o monstro. ‘Estudam’ um pouco sobre ficção, fazem o roteiro. Custeiam com o próprio dinheiro. Ensaios e confusões tornam o filme bem divertido. Eles conseguem chegar no grande dia esperado de receber a premiação.

Criatividade, bom humor, iniciativa e flexibilidade nos relacionamentos interpessoais, elementos fortes da cultura brasileira que são retratados no filme. Porém, Jorge Furtado, que também é o roteirista, aponta o contraste de um Brasil um pouco menos festivo e mais sombrio, quando se trata de atos públicos que possam fazer a diferença para a sociedade. Podemos dizer que, como denuncia o filme, existe um governo ineficaz e muitas limitações burocráticas, mas também é preciso falar das iniciativas particulares, das boas intenções ‘que o inferno está cheio’. Jorge Furtado denuncia o quanto é fácil perder o foco, se comprazer com experiências pessoais e abrir mão de iniciativas que trará um benefício maior para a comunidade.

Assim é o aparelho psiquico. Existem muitos estímulos e Freud diz que a pulsão pode se satisfazer de qualquer coisa, de qualquer estímulo, de qualquer objeto. É preciso muita concentração e exercício para se chegar ao objetivo desejado sem se perder em outras satisfações. 

Saneamento Básico é um exemplo disso. O filme, com muita graça e leveza, com exelentes atores como Wagner Moura, Camila Pitanga, Lázaro Ramos entre outros, consegue levantar um tema muito sério, com todo o gingado brasileiro!


Lançamento: 2007 (Brasil)
Direção e roteiro: Jorge Furtado
Atores:  Fernanda Torres, Wagner Moura, Camila Pitanga, Bruno Garcia.
Duração: 112 min
Gênero: Comédia



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Soul Kitchen





Por: Fabiana Ratti 

Soul Kitchen, dirigido por Fatih Akin, se passa em Hamburgo na Alemanha. Ao mesmo tempo em que mostra o coração partido do imigrante grego Zinos (Adam Bousdoukos) cuja namorada vai ser modelo fora do país, também mostra outros pontos de sua vida em que a situação não está nada fácil. Zinos possui um galpão que funciona como restaurante. O galpão é bem espaçoso e fica em um terreno amplo, excelente local para as especulações imobiliárias. O especulador (Wotan Wilke Möhring), coincidentemente, é um antigo amigo e, quando Zinos se dá conta, vê que pode perder seu restaurante. Seu ‘amigo’ faz de tudo para que isso aconteça, entre algumas artimanhas, chama a fiscalização sanitária.      

Com o passar do filme, percebemos que Zinos ama aquele espaço. Gosta de gastronomia e de ver aquele espaço movimentado. Mas por que Zinos não cuidou do espaço antes? Por que deixou o espaço sujo, sem investimento, sem melhorias, sem divulgação, etc? Por que só começou a batalhar por ele quando percebeu que iria perde-lo?

Lacan, na década de 70, trabalhou bastante a questão de nomear os objetos e os amores. Podemos conviver, estar próximo ou mesmo ter o objeto mas, se não o nomeamos como ‘nosso amor’, não investimos e não conseguimos cuidar dele, a tal ponto que o perdemos. Muitas vezes, é somente no momento da iminência da perda ou da perda verdadeira que o sujeito se dá conta da falta que faz aquele amor e, somente neste momento, consegue nomeá-lo de amor. Algumas vezes é tarde demais.

Parece que isto acontece com Zinos em vários campos de sua vida: no amor, na vida profissional, financeira, etc. Até parece para o público uma discussão dos ‘mocinhos que têm alma’ mas não sabem lidar com o capitalismo selvagem e de outro o especulador mercenário que faz altas manobras com o poder capitalista. Claro que podemos ver um mau-caratismo no especulador, mas, por outro lado, Zinos também não cuidou de nada que era seu até então. Isto gera conseqüências, dá margem para que outros cuidem e levem embora aquilo que não pode ser cuidado por outrem.

Um belo filme que nos põe a pensar sobre o cuidado que estamos dando para nossos amores... pois, quando Rinos muda seu posicionamento frente ao mundo, percebemos que o ‘destino’ também pode ser alterado!


Director: Fatih Akin

Writers: Fatih Akin e Adam Bousdoukos

Stars: Adam Bousdoukos, Moritz Bleibtreu e Birol Ünel

Ano: 2009

Comédia, 99 min

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Hereafter - Outra vida



Lugui Cardim
E-mail: lggcg@ig.com.br
 People like us routinely long for a meaningful life, while other people need to do this in extremely dramatic circumstances. The former will be the major spectators of Clint Eastwood’s latest film, Hereafter. The latter are its characters.
Three parallel stories are linked by the theme “after-life”: a woman that survives the tsunami in Thailand and cannot deal anymore with her promising career as a journalist, a man that avoids his mediumship because he feels it weighs a ton to live the life of dead people, and a little boy who is devastated by the death of his beloved twin brother.
The plot seems spiritualist. However, I reckon Hereafter is above any religion or philosophy, such as Kerdecism. Even though spirits show an important role as guardians in some scenes, the film prioritizes the dignity of the human drama. The main characters are ultimately gathered and rewarded by a meaningful destiny, but this happens only as a consequence of their commitment to a genuine sorrow.
Depending on our own beliefs, Hereafter can be seen as realistic or far-fetched, but I dare say few of us would be insensitive to this moving film, gently handled by the director and the cast.

Ano: 2010
Duração: 129 mins
Título Original: Hereafter
Diretor: Clint Eastwood
Elenco: Matt Damon, Cécile De France, Frankie McLaren, George McLaren
Produção: Clint Eastwood, Kathleen Kennedy e Robert Lorenz


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Que Terá Acontecido a Baby Jane?





Por: Fabiana Ratti


O que terá acontecido a Baby Jane? De Robert Aldrich é um maravilhoso clássico de 1962 com Bette Davis (Jane Hudson) e Joan Crawford (Blanche). O filme, vibrante e intenso, trás alguns pontos interessantes a se pensar: Como é ter vivido, na infância, uma época de ouro? Como o aparelho psíquico digere a idéia de ter vivido num mundo de fama e glória, num palco iluminado por entre aplausos e arroubo dos fãs; e depois, passar a ser uma reles mortal, anônima e sem as gracinhas de uma menina de cabelos cacheados?

Dificuldade parecida mostra o filme brasileiro:Quem Matou Pixote?José Joffily narra a trajetória de Fernando Ramos da Silva,  ator principal do premiado filme Pixote, a Lei do Mais Fraco de Hector Babenco que em 1981 se consagrou no papel, mas que, após o filme, volta a viver sua vida na periferia carioca, no meio do crime, da violência e das drogas, falecendo em 1987.

O filme Baby Jane discute que, mesmo não estando numa realidade social tão cruel quanto esteve Fernando Ramos, o quão difícil é para o aparelho psiquico sobreviver a um ‘investimento narcísico’ tão intenso numa primeira fase da vida.

O narcisismo é uma energia psiquica fundamental e central para a formação do aparelho psiquico, para o crescimento do sujeito e a construção da personalidade. Sem esta energia psiquica básica, não há como o sujeito se constituir. Porém, através destes filmes, e de alguns relatos da mídia em relação a pessoas que ficam famosas na infância, e que têm sérias dificuldades no transcorrer da vida adulta, nos aponta o quanto a mesma energia que constitui o sujeito também pode cegá-lo e sufocá-lo a tal ponto que possa vir a destruir sua vida ou a de outros.

Lógico que devemos considerar todos os fatores sociais implicados em relação a Fernando Ramos. O quanto é importante dar um sustentáculo psiquico para o sujeito, não apenas frente às mazelas da vida, mas também frente ao sucesso. Nem sempre é fácil conviver com o sucesso, e, quando este termina, como o inconsciente consegue enfrentar?

Batte Davis e Joan Crawford estão impecáveis em seus papéis. Ambas numa fase em que já não eram mais mocinhas, retratam os horrores da decadência, da mesmice, da ranhetice da velhice e de como é possível ficar absorta entre reminicências de um passado glorioso e a mesmice de um passado não tão recente, porém inóspito, chato, bolorento, intragável. É assim o cotidiano das irmãs.

Porém, o filme vai mais longe. Até que ponto um ser humano pode ir? Até onde ele é capaz de pagar com sua própria carne por inveja? Por ciúme? Por rivalidade? O que ele ganha com isso?

O ser humano paga caro por seus desejos. O investimento em projetos, sonhos e desejos não é barato. Requer esforço, raciocínio, articulações, trabalho. Baby Jane marca também que não lutar por seus sonhos, não batalhar, não investir... também é caro! E muito! 


Direção: Robert Aldrich
Roteiro:Henry Farrell (romance), Lukas Heller (roteiro)
Gênero: Comédia/ Drama /Romance /Terror
Origem: Estados Unidos
Duração: 134 minutos