segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret e O Exótico Hotel Marigold


 
Por: Fabiana Ratti, psicanalista 

A Invenção de Hugo Cabret (2011) e O Exótico Hotel Marigold (2012) são filmes bem diferentes mas podemos pensar em dois pontos fortes em comum: os dois brindam a amizade e fazem uma espécie de homenagem à terceira idade.

A Invenção de Hugo Cabret é um filme de aventura e mistério dirigido por Martin Scorsese que se passa nos anos 1930. Retrata um garoto órfão de 12 anos que vive solitário em uma estação de Paris onde organiza os relógios, seus ponteiros e sua sincronia, no lugar de seu tio alcoólatra que tinha essa função. Sua única ligação com o pai relojoeiro é um automaton, umas peças de relógio e um caderninho. Suficiente para Hugo se relacionar com o relojoeiro local e sua sobrinha, desenvolvendo uma forte amizade em busca da resolução de um mistério que envolvia o seu automaton e George Melies, precursor do cinema mudo e preto e branco.   

O filme é muito bem realizado e conduz o espectador numa experiência emocionante e histórica. Retrata também, com bastante humanismo, a sensação da pessoa idosa, que já teve seu apogeu, seu estrelato, o reconhecimento de seu trabalho, e com o tempo, com a evolução das tecnologias, com outros nomes sendo reconhecidos, seu trabalho vai perdendo o sentido e se tornando ultrapassado, chegando ao anonimato.


O Exótico Hotel Marigold (2012), de John Madden, se passa na índia e é realmente exótico. Alguns aposentados, entre eles um casal, solteiros e viúvos, pelas mais diferentes razões, decidem passar suas aposentadorias no Hotel Marigold. A princípio, uma falha de roteiro, pois o que faz essas pessoas acreditarem que a índia seria uma excelente opção para essa temporada? Porém, uma falha justificada, pois eles vivem situações difíceis, algumas engraçadas e outras emocionantes que têm a ver com as escolhas que cada um fez na vida e a escolha que cada um faz naquele momento. O dono do Hotel e a relação com a mãe e a namorada é uma atração à parte. Mas aqui eu focaria mais a questão da 3ª idade, que Madden trata com doçura e delicadeza.

A expectativa de vida no mundo vem aumentando. Com remédios, fisioterapias, cremes e produtos de beleza que postergam o envelhecimento, temos uma 3ª idade jovem, intelectual e fisicamente ativa, pessoas que estão se aventurando na internet e nos amores.

Hugo Cabret demonstra que a amizade da nova geração pode homenagear as gerações anteriores, revitalizando suas vidas e retomando o orgulho anterior. O Exótico Hotel Marigold demonstra que a amizade entre pessoas da mesma geração pode fortalecer os vínculos e a vida pode ser ainda melhor, havendo perspectiva de futuro.

Um brinde à amizade!  

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Curioso Caso de Benjamim Button e a Saga Crepúsculo

Por: Fabiana Ratti, psicanalista 

Freud tem um texto chamado O Estranho, é o que mais se aproxima do Curioso Caso de Benjamin Button (2008), drama americano, inspirado num conto de F. Scott Fitzgerald. O filme, dirigido por David Fincher e muito bem interpretado por Brad Pitt, se passa em 1918, em Nova Orleans. Benjamin Button nasce com a aparência envelhecida e seu pai, pensando se tratar de um monstro, o abandona. Benjamin é criado num lar de idosos e, incrivelmente, com o tempo, vai rejuvenescendo até que no fim da vida, tornar-se um bebê.

Estranho. Muito estranho. Freud, no texto, através de um conto de Hoffmann, diz que aquilo que é mais estranho, o que causa mais repulsa e horror, muitas vezes, é o que é mais familiar, mais próximo. Ou seja, a velhice, a esquisitice, a doença, a morte, são horrores da natureza humana que estão sim muito próximos ao ser humano. O bebê Benjamim nos lembra, o tempo todo, o que Freud nomeou de ‘horror da castração’. Tudo o que inversamente, na teoria, um bebê deveria representar, pois ele representa a vida, o nascimento, a juventude, a saúde. Mas nem sempre é assim. Na prática, sabemos que se estamos vivos, os percalços acontecem, haja vista as maternidades e UTIs neo-natal. Benjamin Button causa horror. As pessoas o repelem. É difícil a convivência, o contato. Benjamin causa realmente uma estranheza particular, mas, o que Freud argumenta é que poderia ser qualquer doença. A grande questão é que o ser humano tem horror ao fato de ser mortal, de ser imperfeito. Tudo o que lembra a imortalidade é familiar pois é a condição sine qua non para ser um ser humano, porém, causa horror.

Podemos, em contraposição, discutir, por exemplo, a Saga Crepúsculo (2008) escrita por Stephenie Meyer e dirigida por Catherine Hardwicke. Na Saga, Isabella Swan (Kristen Stewart) é uma garota que se apaixona por Edward Cullen (Robert Pattison), um vampiro. É uma história bem adolescente, num mundo em que se misturam os humanos, os vampiros e os lobisomens. A grande luta é encontrar um ponto de imortalidade, de fragilidade entre os lobisomens e os vampiros e salvar a heroína, até então humana e mortal, Bella Swan.
Mesmo com pontos estranhos e surreais, o filme ganha uma legião de fãs e garotas enlouquecidas, entre tantas razões, uma delas é o brinde à imortalidade, à juventude e à perfeição. A começar pelo mocinho, Edward que fisicamente tem o estereotipo de beleza masculina. Tem mais de cem anos, ou seja, experiência, cultura, sabedoria, mas ficou imortalizado na juventude e na beleza dos 17 anos! É rico, é forte, pressente quando a jovem está em perigo, não tem as necessidades mundanas como comer ou dormir (pode ler ou apenas acompanhar a amada nesse momento) é um vampiro do bem, tem uma família também jovem, que será para sempre jovem, e... voa!

Entre outros requintes de detalhes que não vamos nos debruçar, Crepúsculo brinca com a imortalidade, traz aventuras e fantasias adolescentes que deixam os personagens entre a vida e a morte, mas garante no final: o “horror à castração” é história da carochinha! A perfeição e a juventude eterna existem, pelo menos para o casal central que é o foco de identificação do público.

Lógico que filmes com a profundidade e densidade de O Curioso Caso de Benjamin Button são mais esféricos e verdadeiramente humanos ao colocar o público frente a sérias questões como o horror frente à doença, à morte, à rejeição. O quanto o ser humano é capaz de rejeitar a si próprio como fez Benjamin se excluindo da relação com a esposa e o quanto, nos relacionamentos é preciso estar preparado para acompanhar as mudanças dos cônjuges, quaisquer que elas sejam, ao longo da vida.

Mas também, não precisamos descartar que o ser humano precisa de um pouco de ópio. É preciso um pouco de ópio para esquecer as dores. É necessário algum momento para se embriagar na ilusão de perfeição, completude, harmonia e reciprocidade. Se este ópio vem de filmes e livros, mesmo que sejam simples e fáceis, como diz Baudelaire: “Embriagai-vos”. Melhor do que as drogas, não é mesmo?!

sábado, 1 de setembro de 2012

homenagem ao dia do psicólogo - 27 de agosto

Querida Fabiana,
 
Palavras de um poeta como homenagem ao dia em que 
se comemora seu dia, o dos psicólogos:
 
 
Segue o teu destino
 
 
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

               Ricardo Reis
Com muito carinho,

Stella