quinta-feira, 11 de abril de 2013

A pequena Miss Sunshine e Intocáveis




A Pequena Miss Sunshine (2006) e  Intocáveis (2011) são dois filmes bem diferentes que têm um ponto em que são muito semelhantes. Com ótimas tiradas, inteligência e emoção, esses filmes conseguem falar de assuntos sérios e relevantes para nossa sociedade atual, com uma enorme capacidade de fazer o público gargalhar.

A pequena Miss Sunshine relata a história de uma clássica família dos Estados Unidos. A mãe (Toni Collette) que tenta dar conta dos cuidados com a casa, o filho Dwayne (Paulo Dano) que não se expressa por um voto de silêncio por causa de frustrações. O avô (Alan Arkin) que foi expulso da casa de repouso por uso de drogas. O tio gay Frank (Steve Carell), que foi morar com a família porque tentou o suicídio. O pai Richard (Greg Kinnear)  é a personificação do espírito americano que deseja vencer só com pensamentos e palavras positivas. Ele vende livros de auto-ajuda e o filme mostra a disparidade entre a imagem de ser bem sucedido e as dificuldades para manter e cuidar de uma família, do trabalho e da vida. Ou seja, não bastam as palavras, é preciso esforço, diálogo, união. E isso, o filme mostra com muita simpatia, ao passarem três dias juntos viajando numa Kombi Amarela.  A família decide levar a filha Olive (Abigail Breslin) para um concurso de beleza e assim, viajam do Novo México à Califórnia.   

A pequena Miss Sunshine critica o mundo de aparência que corrói e destrói nossa sociedade atual. Um mundo de barbies, roupas, sapatos e cabelos que tiram a naturalidade, distanciam as pessoas, gera ganância e competitividade gratuita entre as pessoas. Esse mundo pode começar com as crianças e gerar famílias inteiras desarticuladas e distantes. Os diretores conseguiram, de forma maravilhosa, ridicularizar e ironizar tamanho absurdo que acontece em nossa sociedade com muito humanismo e simpatia.

Por outro lado, Intocáveis é um filme francês que relata a dor e a dificuldade de um homem que se tornou tetrapégico e precisa de um acompanhante. Como é possível falar sobre isso de forma hilária? Como o diretor conseguiu? Como ele perdeu o Oscar para aquele terrível “O Artista”? Intocáveis é baseado em fatos verídicos. Philippe (François Cluzet) é um aristocrata e contrata Driss (Omar Sy) para trabalhar. Driss, acostumado com o subúrbio, com a miséria e a simplicidade, fica estarrecido com um novo mundo de riqueza. Mas Driss, não se acanha. Assume a sua personalidade, se coloca, faz seus comentários e não se inibe com suas ignorâncias e pontos de vista. Por outro lado, Driss sabe sorver esse novo mundo. Tem a humildade necessária para aprender e a petulância suficiente para não se acanhar ou se excluir, características muito difíceis, mas necessárias, para quem circula de um mundo ao outro.  Driss conquista os outros funcionários da casa, se posiciona para a filha do patrão, e cria com Philippe uma nova forma dele se autorizar a continuar a viver, apesar das impossibilidades que fazem parte de sua nova vida.   

Rir desopila o fígado. Rir ‘abre o inconsciente’. São dois filmes que merecem a bilheteria e o sucesso que tiveram!

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Bem vindo à vida




Bem vindo à vida é um filme de Alex Kurtzman bastante sensível e inspirador. Um drama que vemos, cada vez mais, nos consultórios dos analistas. Com a morte do pai, Sam (Chris Pane) descobre que seu pai tinha uma outra filha de um outro relacionamento e recebe a incumbência de entregar sua herança a ela, Frankie (Elizabeth Banks).

Uma frase muito usual nos dias de hoje é: “separou da esposa, separou dos filhos”. Essa frase aponta o quanto algumas relações paternas estão ficando defasadas, o quanto as dificuldades nos relacionamentos afetivos homem-mulher afetam as crianças e as famílias como um todo.

Esse filme é especial porque mostra um pai frio e distante, um pai com seus vícios e de uma certa forma, narcisista, pois parecia pensar somente em si. Um pai desses que esquecem e pouco se importam com os filhos. Porém, o filme é surpreendente pois, logo no começo, quando deixa o compromisso de entregar sua herança à outra filha, ele demonstra seu desejo que eles se conheçam, demonstra o desejo de cuidar dessa filha que parecia esquecida.

Nesse movimento, Sam passa por diversos sentimentos. Sente egoísmo, reflete, comove-se, pensa, se interroga. Sam abre uma porta de contato com a mãe (Michelle Pfeiffer) e passa a ter uma relação mais sólida com a namorada (Olívia Wilde). O mais interessante é que começamos a pensar o quanto esse pai sofreu, o quanto ele os amava, o quanto era difícil para ele, mas o quanto ele era impotente. Não soube lutar para estar ao lado dos filhos com mais dignidade e amor. Muitas vezes, realmente não é fácil, muitas coisas estão em jogo. Mas é triste ver que, ao longo da vida, ele economizou amor... deixou de expressar seu amor para filhos que tanto precisavam.

Como psicanalista, me interrogo o quanto isso não é mais freqüente do que supomos. Por traz do descaso e do desprezo de um pai (ou mesmo de uma mãe), pode haver muito amor mal administrado. Pode haver medo e insegurança que impossibilitaram, no curso da vida, a demonstração desse amor. Uma pena! O filme mostra, com delicadeza, o custo pago, por todos os membros da família, essa ‘economia’ de amor.