sábado, 18 de maio de 2013

Ruby Sparks – A namorada perfeita



Por: Fabiana Ratti, psicanalista 




Ruby Sparks – A namorada perfeita é uma produção americana de 2012 dos mesmos diretores de A pequena miss sunshine, Jonathan Dayton e Valerie Faris. É um filme bem mais simples e pode passar por uma usual comédia romântica. Mas é bem interessante do ponto de vista da psicanálise.

Calvin (Paul Dano) é um jovem romancista que já teve alguns sucessos e, como todo sucesso do século XXI, não foi pouco. Nessa era em que estamos, ou ninguém lê o livro, fica por meses nas prateleiras, ou vira febre, comoção internacional com noites de autógrafos e desmaio do público. Calvin era desses que virou notoriedade mas que no momento está sem inspiração para uma ideia interessante. Outra questão de Calvin é que tem uma vida afetiva um pouco parada. Parece ser bastante sensível e exigente, não acompanhando a agilidade da vida sexual desse nosso século.

Então, imbuído de muita concentração cria uma personagem nova, Ruby. O inusitado do filme é que ela ganha vida e aparece em sua casa, age como se fosse sua namorada, conhece sua rotina e as pessoas a seu redor. Por um tempo, Calvin pensa que está tendo um surto, desconectado da realidade e vendo coisas, mas depois, percebe que Ruby é bastante real, interage com as pessoas e participa ativamente de sua vida.       

Fora as bizarrices, com cenas e falas inusitadas, pois a situação é bem peculiar, o que tem de interessante no filme é que Calvin, vendo que sua namorada é uma personagem criada por ele, começa, através da escrita, a manipular suas atitudes, sua fala, seu temperamento. Ruby se torna a namorada perfeita! Como analista, sinto que esse é um sonho de quase todo ser humano. Imagine poder manipular a pessoa, mudar seu humor, fazer com que ela goste de seus programas, respeite seu ritmo incondicionalmente!?! Imagine poder unir em uma só pessoa todas as características boas, todas as qualidades e não precisar dar a contrapartida? Não ter risco de perdê-la?

Ou seja, Calvin constrói um ser que tende à plenitude. Um ser que corresponde a suas expectativas, que não pede nada em troca e que está pronto para tudo a qualquer momento. Quantas vezes não desejamos essa posição de uma pessoa!? Porém, o filme mostra o outro lado da questão. Calvin começa a se sentir sozinho, começa a ver que tem ao lado uma pessoa que não pensa por si, que não age e que não tem seus próprios interesses, e quanto isso é chato!

Ter um relacionamento inclui a ‘incompletude’. Inclui defeitos, temperamentos e ações não tão esperados, inclui dificuldades e obstáculos que os dois ultrapassem juntos. O relacionamento afetivo é uma via de dupla mão, e pode ser bem chato se não for assim... é isso que o filme mostra com alegria e bom humor!