quarta-feira, 2 de novembro de 2016



1984 – de George Orwell

Por: Fabiana Ratti, Psicanalista Lacaniana


Livro de leitura obrigatória em muitas faculdades, 1984 é um clássico que merece ser lido. Orwell consegue mostrar o extremo de uma sociedade de controle, um poder supremo, uma situação de constante vigília, inclusive no momento de reprodução e constituição da prole.

Podemos pensar em momentos históricos em que existia esse grau máximo de vigilância, como no tempo de Hitler ou no socialismo em que todos espionavam e delatavam vizinhos e amigos. Também podemos extrapolar para outros períodos históricos, principalmente nossa sociedade atual, com um número cada vez maior de câmaras espalhadas pelas cidades e informações em tempo real. Todos sabem de tudo: “Big Brother is watching you”, dando nome ao nosso atual programa de auditório numa casa em que tudo é filmado, tudo é controlado e espionado, por um líder e por todos em volta.

Que mundo é esse? Seria o nosso? Quais semelhanças e quais diferenças? Seria Orwell um visionário?

Prática e objetivamente falando, se “somos todos olhados”, precisamos nos responsabilizar por nossos atos e pelo que divulgamos. Se existe o furo. O vazio. Ele será preenchido com algo. Comentamos e reclamamos, muitas vezes, do quanto este vazio está sendo preenchido com lixo. Bailes funks, humores grosseiros, programas inúteis e sem conteúdo. Há 15, 20 anos, pouco podíamos fazer. Se quiséssemos escrever algo, publicar, falar; era preciso entrar em contato com um jornal e a chance de ter nosso pensamento publicado era ínfima.

Hoje, temos todos os recursos. Sites, blogs, facebook, youtube. Podemos nos expressar, falar o que queremos, dar aulas. Como tudo tem dois lados, ser olhado pode ser uma fonte de horror e perseguição, uma exposição descabida de nossas vidas particulares, um modo de gerar inveja e competição. Até mesmo uma forma rápida e ágil para assaltantes e traficantes, o comércio de drogas e armas cresceu vertiginosamente, assim como outros comércios. Por outro lado, temos acesso a nossos amigos que não víamos há anos, podemos falar com agilidade com pessoas que não tínhamos acesso e principalmente, ter responsabilidade em ocupar o vazio com o que consideramos importante e útil.

Se o mundo faz avanços e não há como retroceder, não sejamos nostálgicos em relação ao  passado, mas, ao contrário, se “estamos sendo olhados” e se “somos controlados pela mídia e pelos forças de controle”, que saibamos escolher dentre estas forças, quais seremos controlados, e responsáveis com o que publicamos para contribuir para nosso futuro. 

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