segunda-feira, 3 de julho de 2017

OKJA - um filme sobre contradições cotidianas




O filme Okja, dirigido por Bong Joon Ho e recentemente lançado na Netflix (28/6/2017), prova que é possível criar uma relação de empatia com criaturas quase monstruosas, as quais não inspirariam nenhum carinho na maior parte das pessoas à primeria vista.
Trata-se da história de uma super porca que mais parece um hipopótamo criada geneticamente em um laboratório nos EUA e que vive nas montanhas da Coréia do Sul com uma garota, Mija. O filme começa mostrando a rotina das duas na floresta, seus códigos de comunicação e até um episódio em que Okja salva Mija de cair de um penhasco se jogando em seu lugar. Há muito afeto na relação entre elas e uma calma de quem vive junto, em família. Mas, 10 anos depois, a empresa americana que havia incubido mija de criar Okja volta à Coréia do Sul para levar a super porca de volta à Nova York e fazer o lançamento de sua carne no mercado. E o filme segue mostrando esse conflito entre Mija, que quer salvar sua amiga do abatedouro, a empresa que investiu no animal e quer lucrar com a comercialização dos super porcos e um grupo de ativistas pró animais que quer expor a crueldade da indústria da carne.
Mas engana-se quem acha que o filme é exclusivamente uma apologia ao vegetarianismo e que o faz dando um nome ao animal e envolvendo o telespectador em uma relação de carinho com Okja. Paralelamente a isso há uma ironização bem humorada dos ativistas pró animais, pouco congruentes em suas atitudes e quase inocentes muitas vezes, e ainda, a própria Mija não é vegetariana. Ela e seu avô consomem outros animais e toda a aventura do filme se passa a partir da determinação de Mija em salvar Okja, não em acabar com a indústria da carne.

Assim, de forma extremamente bonita, bem humorada e respeitosa, o filme consegue nos fazer pensar sobre questões que caíram no esquecimento do nosso dia a dia. Contradições como porque temos tanta empatia por cachorros e gatos enquanto comemos um filé de vaca, como ouvimos discursos de paz proferidos por grupos que buscam essa paz através de violência, como apostamos na veracidade de políticas eco-friendly e “orgânicas” sem de fato sabermos quanto correspondem à verdade do produto que consumimos e ainda, como deixamos de questionar as práticas de reprodução e abate dos animais cuja carne abastece os supermercados. Tudo isso através de uma trama emocionante e delicada, muita ação e paisagens belíssimas.
Por: Ligia Ungaretti Jesus, Psicanalista. 

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