quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Um Reino Unido





Um Reino Unido (2016) é um belo filme inglês que mostra a força de uma boa política. Baseado em
fatos reais é dirigido por Amma Asante e estrelado por David Oyelowo e Rosamund Pike. O filme condensa alguns temas polêmicos, entre eles, o racismo. Seretse Khama, o príncipe de uma província Africana, no final da 2ª Guerra Mudial, precisa voltar para o seu Reino e assumir o trono. Porém, ao ir estudar direito na Inglaterra se apaixona por uma jovem inglesa loira e decide se casar à revelia de sua família.

Seretse Khama decide lutar por seu amor, enfrentar a família e conquistar o respeito de seu povo. Não é uma tarefa fácil! Ao chegar com a esposa branca, a família e a aldeia voltam-se contra ele. Mas, como é bonito o exercício da retórica! Como, com a palavra é possível articular povos, mover uma nação, construir ou destruir uma realidade!

Para a psicanálise, A Verdade em si não existe. O que existe é a versão que fazemos da realidade. A construção que damos para ela. Seretse Khama interroga frente a seu povo: Por que precisamos perpetuar a ideia de que brancos e negros não podem conviver? (Por que vamos perpetuar esta verdade?) Se nós não aceitamos aqui, como vamos reclamar que não nos aceitam lá fora? Então interroga: Como vou escolher entre o meu amor e o meu povo? Por que preciso ficar amputado de um dos dois? Como vou governar sem meu amor ou como vou viver meu amor sem meu povo?

Com essas palavras, Seretse Khama toca o coração de seu povo e vai construindo uma nova realidade em seu Reino. A palavra, para a psicanálise, é como um bisturi. É possível fazer uma grande cirurgia psíquica, o sujeito consegue sair de posições subjetivas de depressão e de destruição através do exercício da palavra, da fala e da escuta. É possível fazer grandes transformações humanas com o uso da palavra. Esta é a diferença entre a guerra e a política, entre a luta armada e a diplomacia.

No decorrer do filme. Novos desafios vão surgindo, inclusive ‘armações’ políticas que podem prejudica-lo, destruir seu reinado e a estabilidade em seu relacionamento. Mas, Seretse Khama consegue ser um exímio político. Consegue suportar a impotência com paciência, sem agir por impulso; consegue raciocinar, articular, fazer contatos, e o mais interessante, consegue fazer um fio que liga todos as suas questões e com um ato político, resolver todos os pontos pendentes. Magistral! Para poucos.

É muito comum, como sabemos, a pessoa usar a política para proveito próprio, para o roubo e a destruição. O ser humano tem um potencial enorme para a destruição. Para agir  narcisicamente, via ego, para agir por impulso, e assim, destruir.

É muito bom ver que frente a uma decisão entre destruir e abandonar tudo, o sujeito consegue, ao contrário, pagar o preço e lutar pela construção, pela sociedade, pela união dos povos, pelo fim do racismo. Se as pessoas conseguissem, assim como Seretse Khama, abrir mais mão do ego em prol de projetos via sujeito que tenha mais retorno para toda a sociedade, o mundo, com certeza, seria melhor para todos!

Por: Fabiana Ratti, psicanalista

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Murdoch Mysteries


Ao meu querido marido...

A série de televisão canadense Murdoch Mysteries trouxe muita alegria e emoção ao nosso lar. São 12
temporadas que em cada episódio acontece um assassinato e o Detetive Murdoch com seu assiste saem em busca de pistas. A equipe é muito bem preparada mantendo a sintonia de ação, suspense, bom humor e ironia. Tem até um clima de romance entre Murdoch e a Patologista Júlia que faz as autópsias e ajuda o detetive a raciocinar as intrigantes dúvidas que um crime provoca para desvendá-lo.

É impressionante a imaginação da equipe para criar tantas situações diferentes, em locais e com pessoas tão inusitadas. O que mais chama a atenção é a parceria da equipe de policiais e o empenho em resolver os casos, não se importando com questões econômicas, sociais ou raciais. É uma sociedade que tem suas doenças, pois as pessoas cometem crimes, mas uma sociedade que prima pela justiça e o direito aos cidadãos, admirável!
Por ser uma série de época, que se passa na virada do século XIX para o século XX, existe um respeito muito grande entre as pessoas, uma cordialidade, uma sensibilidade que parece ter sumido na atualidade.

Agitou minha casa pois todos gostamos de assistir, inclusive as crianças que são estimuladas a fazerem perguntas. Murdoch é um detetive que usa a cabeça, o raciocínio e a lógica; além disso, adora fazer engenhocas que o ajudam a desvendar o caso, num estilo Spielberg. Alguns episódios têm um estilo Hitchcockiano do mestre do suspense. Outro ponto interessante é acompanhar as mudanças e descobertas do mundo na virada do século e pensar no que elas se transformaram hoje. 

Murdoch retrata o estereótipo do homem do começo do século XX. Gentil, educado, um homem de poucas palavras que usa seu cérebro realmente para pensar e criar recursos para chegar em seu objetivo. Um homem sério, responsável, fiel a suas responsabilidades. Murdoch é uma pessoa interessante, capaz de falar sobre diversos assuntos, articular, criar... é sensível, meigo, delicado, humano, é uma pessoa amiga, confiável, preocupada com o outro. Com apenas um olhar consegue mostrar reprovação a certos valores sociais, transmitir empatia aos familiares que perderam seus entes queridos, e mesmo demonstrar carinho e amor através de um olhar por pessoas que moram em seu coração. Com todo esse arsenal de qualidades e inteligência, Murdoch não é esnobe e nunca é arrogante com as pessoas, somente se é necessário em sua tarefa investigativa; articula muito bem com pessoas que quase não possuem cultura, com deficientes, com crianças bem como com aqueles da alta roda. Se não sabe, estuda, se não conhece, pesquisa. Sempre exigente consigo mesmo para resolver os casos, associar e criar. Ah, também tem seus defeitos... extremamente pontual, meticuloso, corrige o inglês das pessoas de sua convivência que não estão falando corretamente.

Yannick Bisson, ator canadense que interpreta magistralmente o detetive Murdock fez laboratório de  
pesquisa para interpretação na minha casa, não é possível! Murdock tem absolutamente todas as características de meu querido marido Lugui. A estatura e o biotipo, o jeito de falar, os trejeitos, o modo de olhar, de se admirar sobre os fatos, a maneira de não se abalar pelo senso comum ou de gostar de algo só porque todos gostam. A forma de respeitar e amar uma mulher incentivando seu trabalho, sua intelectualidade e sua liberdade. A tranquilidade de escolher uma mulher única, sem se preocupar com o que poderia estar perdendo. Exceto pela vida de ciclista que Murdock leva e uns drinques que meu marido toma, eles são praticamente idênticos. Muito bom estar ao lado de um homem do século XIX em pleno século XXI! Espero fazer jus à Dra. Odgen, personagem inteligente amada por Murdock!

Por: Fabiana Ratti, psicanalista lacaniana. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Um método perigoso


Um método perigoso (2012), dirigido por David Cronenberg, discute o nascimento da psicanálise de maneira picante. Apresenta Freud e Jung, suas ideias revolucionárias a respeito do aparelho psíquico e a paixão pelo analista envolvendo a sexualidade. Bem interessante para atrair o público em geral; sexo tem sempre seu apelo no imaginário popular, ótimo para a bilheteria.

Com este apelo, o filme suscitou muitas perguntas a respeito da relação analista-analisante no público leigo. Desta forma, o que posso dizer como psicanalista do século XXI é que o amor continua sendo a ferramenta mais imprescindível para o trabalho do analista. Sem amor, sem afeto, não há como atingir o aparelho emocional do sujeito. Se falarmos apenas de forma racional, não atingimos a estrutura psíquica, não há uma movimentação pulsional do sujeito e não há como haver transformações, mudanças de posições subjetiva frente aos fatos. A análise em si não acontece.
Sexo já é algo bem diferente. O afeto direcionado ao analista, não precisa, de forma alguma, ser vinculado a um desejo sexual. E hoje, no século XXI esta união: sexualidade-amor-de-transferência é algo bem démodé. Já caiu de moda.

O que acontecia no começo do século XX, na época em que Freud estava descobrindo e construindo o método psicanalítico, foi algo bem histórico, datado. Era uma época anterior a todo este movimento revolucionário que pleiteou pelo direito e pela igualdade das mulheres. Ou seja, não havia um círculo social tão extenso onde era possível os homens e mulheres se relacionarem de forma natural. Elas não trabalhavam, saiam pouco de casa, não deveriam ter acesso à sexualidade antes do casamento. Hoje em dia a realidade é bastante diferente. A inserção da mulher no mercado de trabalho, no mundo acadêmico, nos esportes, na vida social, deu possibilidade para que homens e mulheres se encontrassem de uma forma natural e saudável. No século XX, com as redes sociais e os aplicativos, ampliaram exponencialmente as chances de encontro e conquistas. Assim sendo, essa necessidade de sedução que o ser humano tem, não precisa mais ser canalizada para o consultório, para a relação médico-paciente. Ela já tem muita vazão na sociedade, é o que a clínica aponta.

Porém, de certa forma, é uma relação bem delicada e muitas vezes, podemos dizer que continua sendo um “método perigoso”...O aparelho psíquico tem defesas inconscientes para não entrar em contato com situações e sensações emocionais e, por outro lado, o trabalho do analista é exatamente o de driblar e baixar as resistências inconscientes. Quando essas resistências baixam, as emoções transbordam; lembranças, pensamentos e sentimentos guardados com chave de ouro veem à tona e pode ocorrer uma passagem ao ato ou um acting out, situações que saem do campo da linguagem e passam ao ato. Existem manejos, manobras e instrumentos psicanalíticos para lidar com isso e desviar a pulsão para que o sujeito traduza em palavras emoções que estão a tanto tempo guardadas. E assim, dirigir as paixões para pessoas e situações da escolha do sujeito, este é o objetivo do método de forma singular a cada pessoa.  


De: Fabiana Ratti, Psicanalista Lacaniana

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Festim Diabólico – Hitchcock




Nessas férias, fizemos um festival Hitchcock em casa... Assistimos o clássico Janela Indiscreta (1954), filme em que James Stewart, de sua janela, suspeita da ocorrência de um crime; enquanto se recupera de uma fratura na perna, investiga os vizinhos suspeitos. Em seguida, assistimos a Um corpo que cai (1958) e novamente Stewart, com sua inteligência Hitchcockiana, desvenda o mistério de Madeleine que parecia ser abduzida por Carlota, uma parente já falecida. Então, foi a vez de O Homem que sabia demais (1956) e novamente o mestre do suspense esbanja tensão e mistério personificado na excelente atuação de James Stewart.

Encerramos o festival, pelo menos por essas férias, com o maravilhoso Festim Diabólico (1948). Filme feito anteriormente a esses três, cujo mistério não recae na busca meticulosa pelo assassino, mas por um suspense criminal e psicológico filmado em tempo real numa única tomada de 1hora e 20 minutos. Num apartamento, após estrangular um colega, dois amigos colocam o corpo no baú e fazem um jantar em cima do baú, entre conhecidos do morto que sentem sua falta no jantar. Um jogo diabólico, perverso.

Uma ideia de que é possível matar uma pessoa apenas pelo poder de matar, de passar pela sensação, de ver como é. E, testar a sensação de, ainda por cima, conseguir recepcionar as pessoas, agir como se nada tivesse acontecido.
Estavam lá amigos da Universidade, Professores, pais; num clima de amizade e descontração. Com o tempo, o clima foi ficando pesado, tenso. Começaram a sentir falta do morto que deveria estar presente.   
Instalou-se uma tensão entre os dois assassinos. O que liderara muito seguro de si e gozando daquela situação ímpar. E o cúmplice, a todo momento se denunciando, já visivelmente arrependido de seus atos, entregando-se e incluindo que há um custo a ser pago pelos atos.
Entre um assunto e outro, rolou uma discussão de que havia pessoas de primeiro escalão e de segundo escalão. Pessoas superiores e outras inferiores. Pessoas com mais cultura que mereciam viver e outras sem tanta cultura que não mereciam tanto. E as superiores poderiam tirar a vida das inferiores.
Hitchcock em 1948, com muita elegância, discute o que a sociedade leva anos para admitir.
Todo ser humano tem um inconsciente que tem suas fragilidades, faltas e inseguranças. Falar
mal do outro, destruir o outro com palavras ou atos é uma forma de se afirmar. De sentir-se forte, superior, sem precisar produzir ou construir algo, é só destruir e sentir-se o mais forte. Esse efeito psíquico acontece individualmente entre pessoas, familiares, amores; bem como em instituições e sociedades, vide a política brasileira. Esse jogo psicológico que Hitchcock captura com a excelente atuação novamente de James Stewart que, como professor Universitário, também critica as disputas egóicas que rolam nas Academias.
Em inglês, o filme chama-se Rope e faz referência à corda usada para o estrangulamento. O som nos lembra Hope, sempre há a esperança de que as pessoas não precisem destruir o outro para se promoverem, que elas possam crescer por elas mesmas...Hitchcock sempre genial!  


Por: Fabiana Ratti, psicanalista

sexta-feira, 27 de abril de 2018

A Leoa


A Leoa (2017) é um filme norueguês baseado num romance de Eric Fosnes Hansen e muito bem interpretado por Mathilde Thomine. O filme se passa em 1912 numa pequena vila da Noruega, numa estação de trem, e mostra, de forma magistral, como o preconceito pode ser implementado ou banido, dependendo do posicionamento do sujeito, ou dos sujeitos em volta.

O filme começa com um funcionário da estação de trem vendo sua esposa falecer ao dar à luz à sua filha. Essa já é uma situação que não há nada que possa causar mais horror. Para receber a vida da filha precisar perder a sua amada companheira. Tudo que deveria ser um momento de festa e alegria, passa a ser um momento de horror e desespero. Como um senhor do começo do século XX conseguirá cuidar de uma filha sozinho?

Como se não bastasse, a menininha nasce coberta de pelos. Segundo o médico, os pelos do bebê caem no 6º mês de gravidez e os dela não caíram. Ela teria aqueles pelos por todo o seu corpo até o final de sua vida. Eva parece um ursinho de pelúcia cuja doença é chamada de hipertricose.

Esse primeiro momento é absolutamente angustiante e o filme faz jus à tensão necessária. Como investir psiquicamente numa criança que estava causando-lhe tanta dor?

O pai contrata uma moça para cuidar dela e fica bem afastado, nem a olha e nem a toca. Além de tudo, ainda não a deixa ter contato com a sociedade. Ele a exclui de ir à escola, de passear pela rua, até mesmo de ver o sol se alguém estiver passeando pela rua no horário.

Olhando de fora, Eva teria tudo para viver uma vida absolutamente normal, pelo menos até a adolescência, quando outras questões entram em jogo. Mas, na infância, se o pai a tivesse apresentado à sociedade, deixado ela brincar na rua como as outras crianças, levado à escola e enfrentado a sua diferença de cabeça erguida, Eva poderia ter sido incluída pela grupo. Como ele a trancafiou numa torre, o mito da menina que tinha pelos ficou pairando na cidade, mas ninguém sabia como ela era. O pai tinha vergonha de apresenta-la e dessa forma podemos ver pelo filme as angústias e tristezas que podem ser causadas quando dentro da própria casa nasce o preconceito. Logicamente que esse preconceito é criado pelo dor narcísica de ter gerado “um monstrinho”, a sensação que um pai tem diante das incompletudes que o filho aponta.

Eva já tinha uma situação singular, somada à vergonha e às dificuldades do pai, isso tomou uma força desproporcional fazendo com que Eva quase não tivesse vida, quase não existisse... sem amigos, sem encontros, sem vida.

Mas foi sua querida cuidadora que, tomada pelo amor, incentivou Eva a ir para a escola, a
interagir com as pessoas, a batalhar por sua vida. Não é fácil enfrentar a diferença com unhas e dentes. Mas, a acompanhante, com seu orgulho de ver Eva, tão inteligente, crescer e dar os primeiros passos; a incentivou e ela teve coragem, destreza, vontade de crescer e chegou longe. Longe, muito, muito longe. Dando uma prova de que não é o outro que nos autoriza a viver e a fazer parte da sociedade, somos nós mesmos que nos autorizamos e nos incluímos!       
 Por: Fabiana Ratti, psicanalista

quinta-feira, 22 de março de 2018

Dark - série




Dark (2017) é uma série de drama e suspense que se passa numa vila da Alemanha. Parte do sumiço de 2 crianças e o roteiro gira em torno de quatro famílias daquela região. É uma entre algumas séries cujos personagens viajam no tempo. A princípio podemos dizer que é uma réplica do inconsciente. O aparelho psíquico se movimenta como a série mostra. Ele tem suas próprias leis e às vezes parece um túnel escuro onde atravessamos do presente para o passado e para o futuro.

O tempo da série não é como as outras que marcam algo mais próximo do racional com começo, meio e fim, com uma lógica temporal que todos acompanham. Não. Não sabemos se estamos no futuro, no passado ou no presente. E, segundo Freud, essa é a atemporalidade do inconsciente. Tentamos fazer algumas marcações temporais para nos organizar, mas o tempo é descontinuo e segue uma lógica do desejo. Em segundos podemos atravessar o tempo e o espaço com nossos pensamentos.  


Dark fala em triangulação, como se todo o casal tivesse uma terceira pessoa inserida. Para a psicanálise, isso também é uma verdade. Não necessariamente uma traição erótica, pode ser a mãe, o pai, um irmão, um filho, um amigo, um trabalho. Existe uma força que ‘puxa’ o sujeito para várias paixões e é preciso muita decisão para se vincular de fato ao objeto de desejo. Mesmo porque a pessoa amada é uma figura esférica, nos traz alegrias e algumas incompletudes, o que faz essa força ficar ainda mais forte causando uma triangulação nos casais.  

O terceiro ponto é a repetição. Na série eles falam sobre uma repetição de 33 anos, para a psicanálise não seria exatamente esta data. Freud fala em “compulsão à repetição”, uma repetição que se impõe sobre aquilo que não foi elaborado. O que não foi simbolizado retorna no real. Vivemos repetições, que às vezes seguem gerações, até desvendar os mistérios e enigmas das leis do inconsciente.  

O quarto ponto que se assemelha muito à psicanálise lacaniana é que no último capítulo falam em topologia e utilizam um nó topológico para representar presente, passado e futuro, o mesmo que Lacan utiliza para representar os registros do inconsciente.

Um aspecto interessante é que parece que a série não oferece ponto de identificação. Muitas pessoas podem ter gostado da série, mas não parece ser uma série que puxe a identificação do espectador... Sem identificação não tem amor. A identificação é o primeiro passo para o amor. Como uma série que fala tanto a linguagem do inconsciente não inclui o amor?


quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Lion: uma jornada para casa



Lion: uma jornada para casa (2017) dirigido por Garth Davis, retrata a história real de Saroo, um menino indiano de 5 anos que saiu de casa com o irmão e se perdeu, entrou em um trem que andou 1.500.000 km e chegou em Calcutá. Saroo não sabia onde estava e nem como faria para voltar para casa, vinha de uma aldeia com outra língua, dizia Ginestlay e era Ganesh Talai, ninguém entendia o que dizia. Depois de passar algum tempo andando pelas ruas de Calcutá foi adotado por uma família de Australianos. Depois de 25 anos ficou famoso ao descobrir o nome de sua aldeia e voltar para casa utilizando o Google Earth.    

O filme mostra 2 pontos que gostaria de ressaltar:

O primeiro é que a família de Australianos adotou duas crianças: Saroo e outro menino. Um dia, a mãe adotiva chegou para Saroo e disse que sentia orgulho dele pois ele havia aproveitado todas as oportunidades que lhe fora oferecido. Ele estudou, aprendeu esportes, fez amigos, tinha namorada, estava pronto para o mercado de trabalho, era gentil com os pais, enquanto o outro irmão era revoltado, brigava por tudo, não pegou as oportunidades e seguia o caminho de destruição das drogas.
Como analistas vemos isso cotidianamente no consultório. Pessoas que têm grandes oportunidades e não aproveitam, reclamam, abrem mão, nem sequer as enxergam. E outras que sabem enxergar, usufruir e acima de tudo, criar novas oportunidades. Sorro foi sujeito, escolheu e decidiu sua vida.

O segundo ponto é que desde pequenininho ele soube ser esperto nas ruas, fugir das adversidades,
soube analisar se a pessoa estava realmente do seu lado ou não, se dispôs a pensar. Mesmo para procurar seus parentes, Saroo se esforçou, se dedicou, sabia o que queria e não se deixou cair na vitimização. Soube ser sujeito.

Muitas vezes, no consultório, a pessoa perde-se daquilo que quer e fica na mão do outro, fica apática e inerte, sem conseguir escolher e decidir a própria vida.


Soroo nos deixa uma lição. Mesmo nas situações mais inusitadas e difíceis é imprescindível ser sujeito e decidir a direção para onde levamos nossa vida!